Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
-"Meu pai foi à guerra!"
-"Não foi!"-"Foi!"- "Não foi!"
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: -"Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma
Clame a saparia
Em críticas céticas
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
-"Meu pai foi rei"-"Foi!"
-"Não foi!"-"Foi!"-"Não foi!"
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
-"A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
-"Sei!"-"Não sabe!"-"Sabe!"
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
André K. Furuie 03
Bibliografia: livro Estrela Da Vida Inteira Manoel Bandeira
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